Fúria em duas rodas

[#49] Para quem não anda de carro, nem de moto, nem de ônibus, e também não tem tempo nem coragem de andar a pé por aí, sobra uma opção que, acima de tudo, é ecologicamente correta: a bicicleta. A pessoa faz um exercício e não polui. Tudo é lindo, perfeito e maravilhoso, até que o infeliz se dá conta de que está na Capital do Inferno. Esta cidade, por ser longe da felicidade humana (mar e sol), é repleta de sobes e desces. São lombas, morros, montanhas e ladeiras para todos os lados. Subir a Nilo Peçanha, a Lucas de Oliveira ou a Mostardeiro a pé é mais rápido do que de bicicleta, para pessoas normais (duras e sem tempo livre) como eu. E quando se chega lá em cima, ao invés de comemorar mentalmente, o ciclista tem vontade de chorar: na volta, vai ter que subir tudo de novo.

Graças às ladeiras desse fim de mundo, a pessoa se mata fazendo exercício, toma uma overdose de Gatorade, pega uma gripe (por causa do vento nas descidas), chega toda suada ao seu destino (que normalmente não tem uma ducha), tem que carregar uma mochila cheia de apetrechos extra (toalha, desodorante, sabonete e outra muda de roupa) e, no fim do dia, fica podre porque, SE A CIDADE FOSSE PLANA, ela não teria demorado três vezes mais para se deslocar de um ponto a outro e não teria desperdiçado energia.

Sem contar que não há ciclovias, então ao seguir o trânsito comum o ciclista tem que dar várias voltas para atravessar uma rua sem ir na contramão. Pelo mesmo motivo, ele não pode usar as calçadas - o que é certo, mas seria mais certo ainda se os motoristas respeitassem os ciclistas.

Não tem jeito, essa capital da desgraça. Tem que implodir essa porra e fazer tudo de novo.