Descargo de consciência

[#129] Que fique bem claro: eu não odeio a chuva, nem o frio, nem o vento. O que eu odeio é a forma como essas manifestações brutais da natureza interagem na Capital do Inferno. Parece que nada dá certo. E eu odeio mais ainda a insistência do homem em lutar contra essas forças da natureza. O ser humano não foi criado para viver nessas condições, então para quê insistir? Para quê teimar em ter o que não está a nosso alcance?

Nós arrancamos peles de animais, sacrificando-os, para nos aquecer. Nós queimamos sua carne para não morrer de fome. Nós usamos seus chifres para atrair outros animais a caminho do abate. Nós tiramos seu leite porque a água, quando existe, está gelada ou congelada. Nós começamos a brigar entre nós porque os animais que matamos não se reproduzem infinitamente. Nós começamos a nos odiar, mas precisamos de companhia e acabamos nos apegando a outros animais. E só então nos damos conta de que estamos no lugar errado. Estamos no lugar errado.

Eu digo isso porque existem outras formas de sobreviver, sem prejudicar a natureza em larga escala e sem sacrificar animais. Talvez a minha ação não faça diferença (o que se dirá, então, da minha palavra?), mas pelo menos eu ficarei com a consciência limpa. O próximo passo é daqui para fora, para bem longe. É como diz um amigo meu, como já comentei neste blog: nascer na Capital do Inferno é destino; viver aqui é burrice.