Chuta que é macumba

[#120] No desespero, uma opção é apelar à religião. Criar fé. Sendo uma pessoa alternativa, como sou, obviamente não vou escolher uma religião tradicional. E, estando no Inferno, é melhor abraçar o diabo e praticar logo a quimbanda, porque a umbanda já está pra lá de ultrapassada, e é religião para crianças índigo. Numa dessas, resolvi sacrificar uma galinha e fazer uma oferenda a um Exu, amigo meu, para ver se dou um fim aos meus problemas. Então, me vesti de branco e fui para uma esquina num bairro bem distante do meu. Ajeitei no tecido vermelho a pipoca, a galinha, a cachaça, as rosas... E as velas. Comprei velas de sete dias, aromatizadas, sendo que duas têm três cores, que é para ter certeza de que a muamba vai funcionar. Enquanto eu voltava para casa de madrugada, começou a ventar. Conforme eu caminhava na direção do meu bairro, o vento começou a ficar mais gelado e eu pensei "putz, vai chover". Chovendo ou não, com certeza àquela altura as minhas velas já haviam apagado e eu caí na real: a macumba não ia dar certo. Obrigado, Capital do Inferno, mais uma vez, por destruir meus planos. Não consigo mais nem ser religioso. Se eu estivesse num lugar com menos umidade, vento na medida certa e chuva nas horas necessárias, minha oferenda chegaria ao Exu sem percalços. Melhor ainda, eu não teria que fazer oferenda nenhuma. Ou, quem sabe, agradeceria a Iemanjá por levar o mar aos meus pés, todo santo dia. Já em casa, quando encostei a cabeça no travesseiro, mentalmente eu chutei o balde e me converti ao ateísmo.