[#93] Percebi que nunca visitei tantos médicos, na minha vida inteira, quanto visitei no mês passado. Parece até que um problema foi desencadeando outro (na verdade, um foi desmascarando outro) e acabei me sentindo uma pessoa velha e incapaz de se virar sozinha (até porque os médicos pediram retorno, seja em um mês, seja em meio ano). Parece que nunca mais vou me livrar dessa raça de gente que examina gente.
Mas o que me apavorou foi que comecei a usar um monte de remédios (quando nada mais funciona, nós começamos a apelar para a indústria farmacêutica e viramos dependentes químicos de drogas lícitas). É talco pra frieira, pomada pra cicatrização, spray pra rinite, bala pra dor de garganta, gel para limpeza, aspirina pra dor de cabeça, vitamina C pra gripe, cremes hidratantes pra pele, antibactericidas pra boca, colírios, etc. etc. etc. É um monte de coisa, e como se não bastassem os gastos com tantos produtos químicos, ainda tem a questão do tempo. Cada coisa tem um horário, um remédio tem que ser ingerido com a comida, outro depois do banho, outro antes de dormir, um na hora de acordar, outro em jejum de 6 horas, alguns de 8 em 8 horas, muitos por 7 ou 30 dias. Acho que nem um coquetel para aidéticos é tão complexo como o meu cardápio de medicamentos. Ninguém tem saco para ficar se controlando tanto assim. Talvez nós tenhamos que voltar aos velhos tempos, quando um emplastro qualquer, criado pelo boticário da província, curava desde dor de dente até histeria. Meu emplastro eu já sei qual é: uma viagem de ida sem volta para qualquer lugar que não tenha coisa alguma em comum com este Inferno.
O mais intrigante é que, possivelmente, a origem de tantos males esteja não em mim e no meu corpo que está aparentemente sem imunidade alguma, mas neste maldito lugar onde moro, neste inferno horroroso que destrói a saúde de qualquer ser vivente. Onde é que isso vai parar? Será que eu vou sobreviver até que me receitem um tarja-preta?