Não viver de arte
[#58] Já que o infeliz (sobre)vivente da Capital do Inferno não consegue viver de arte de jeito maneira, ele vai fazer o tipo de serviço que todo e qualquer pobre-diabo faz: começa a trabalhar num escritório. Todos sabem que isso não é muito agradável, em parte pelas burocracias, em parte porque a pessoa não se sente útil. Trabalhar com uma papelada, telefones e computadores (ou nem isso: uma vez, trabalhei num escritório que só tinha UM computador, pois os chefes tinham medo de que os usuários ficassem no MSN e no Orkut o dia inteiro. Pedi demissão no segundo dia.) é um porre, é cansativo, é brega, e falta pouco para ser kitsch também. Mas quem mora na Capital do Inferno é guerreiro. O cara precisa trabalhar e, não podendo fazer o que quer, faz o que pode. Passa o dia se estressando com firulas laborais, e uma delas, que pode parecer ridícula, é o papel trancando e amassando dentro da impressora. Dá uma raiva quando se está com pressa e dá um pau na impressora! Eu descobri que uma das causas é a umidade do papel. Papel úmido sempre tranca. Na Capital do Inferno, ele já nasce úmido. É foda. Quem não tem uma estufa não tem o que fazer, a não ser ficar diante da impressora colocando folha por folha, cruzando os dedos para que o papel não trave no meio do caminho e para que a tinta não borre. É possível não se estressar?