Cosmonautas

[#44] Vista-se para um dia qualquer, aqui na Capital do Inferno, e olhe-se no espelho. Agora pegue uma foto do Iuri Gagárin e compare-se com ela. Dá até para entender por quê a astronomia se desenvolveu na Rússia. Eles já tinham toda a indumentária necessária, tinham roupas perfeitas que suportassem quaisquer temperaturas. Só faltava um carro que agüentasse a pressão do vácuo e que se locomovesse sem rodinhas. Até que um dia alguém inventou os foguetes, aí juntou A + B e lá se foi Iuri para o infinito. Aqui na Capital do Inferno, já temos os trajes quase perfeitos: japonas enormes (algumas até parecem edredons, têm até as costuras quadriculadas), calças sobre ceroulas, botas e galochas sobre calças, luvas de todas as cores, cachecóis que são tão grossos que podem vedar um capacete. É a cidade dos Cosmonautas sem rumo. Aqui moram aqueles que até querem chegar lá, até querem um dia conhecer a lua e outros planetas, querem viajar pela Via Láctea. Mas estamos falando de Brasil, e sabemos que jamais os cosmonautas da Capital do Inferno desenvolverão tecnologia suficiente para conhecer o espaço sideral. No máximo, pegar uma carona na barca do Gil Vicente e passear pelo limbo.