A dança dos desesperados

[#114] A dança da chuva, supostamente originária de algum folclore indígena, virou brincadeira de criança. Na Capital do Inferno, essa dança é coisa séria, e deveria se tornar um tabu, algo proibido e cercado de mistérios. Posso até imaginar seitas se criando em favor das chuvaradas, tão indesejadas nesta cidade amaldiçoada. Para dar exemplos: em duas horas de chuva, um pluviômetro chega a registrar 30 mm; em um (UM!) dia de julho, chove 24% do volume pluvial que costuma ter essa época, todo ano; entre 6h e 11h, quase 40 acidentes de trânsito ocorrem graças ao transtorno urbano; postes caem, semáforos deixam de funcionar, enchentes se formam, os carros não andam enquanto a água se acumula sob seus motores e enferruja sua lataria. Em uma manhã, o telefone para emergências recebe quase 600 chamadas.

Neste blog, eu costumo carregar de drama todas as informações (elas são verídicas, apenas ganham emoção quando contadas com as minhas palavras)... Mas os dados que acabei de mencionar são reais e estão limpos de opinião. O mais intrigante é que TUDO ISSO aconteceu em uma manhã. Acontece sempre, mas teve essa manhã maldita que foi premiada com todos os males trazidos pela chuva.

Então, em homenagem aos feridos nos acidentes desse dia, e também em homenagem a todas as pessoas que chegaram atrasadas no trabalho por causa do caos pluvial, hoje eu criei a dança do sol. Será meu ritual pessoal, diário, para que a chuva comece a cair onde a terra seca precisa dela, e não na minha cabeça.